Elros (21 anos) começou a se interessar pela bruxaria aos 12 anos, após ler os livros de Harry Poter, Arien (20 anos), de família protestante, teve sua primeira experiência com a magia na quinta série, atavés do contato com uma colega de escola. Ele manteve esse interesse até a juventude, aprofundando cada vez mais nas leituras e elaborando uma prática solitária. Ela, por conta da família ligada a Assembléia de Deus, só passou a se envolver com a Wicca após o começo do namoro, há três anos atrás. Juntos, Arien e Elros frequentam a Abrawicca desde 2013, período em que também aperfeiçoaram sua prática solitária. Atualmente ambos pertencem ao Círculo Externo da Tradição Diânica do Brasil, onde planejam pedir dedicação.
Entrevistei Elros em uma tarde chuvosa na Universidade do Estado do Pará, onde ele é calouro do curso de Ciências da Religião. A conversa entusiasmada girou em torno do sagrado feminino, política, ecologia, família e relacionamento. Elros contou de como a sua ligação com a Wicca transformou sua maneira de perceber a sua relação com as mulheres, com a terra e com o planeta. Elros acredita que a Wicca promove mudanças sociais através da internalização de comportamentos e práticas cotidianas.
Dias depois, encontrei o casal no Shopping Pátio Belém, para a realização da entrevista com Arien. Como Elros, ela gosta de falar sobre a Wicca. Enquanto saboreava um sushi na praça de alimentação, Arien falou sobre suas origens protestantes, os conflitos que enfrentou para conhecer a Wicca e de como a religião funcionou na sua vida como uma prática libertadora.
A entrevista com o casal trouxe para o projeto a visão de uma geração jovem que se aproxima da Wicca a partir de produtos da cultura de massa. A partir desta porta de entrada, os jovens conseguem ter acesso uma verdadeira prática da religião, que influencia profunamente seus valores e comportamentos.
Espiritualidades Feministas
segunda-feira, 23 de março de 2015
sábado, 14 de março de 2015
Entrevista com a sacerdotisa Danna Myr, da Tradição Diânica do Brasil
Hoje concedeu entrevista para o Projeto Espiritualidades Feministas, Sagrado Feminino e Movimentos Sociais no Mundo Contemporâneo, a sacerdotisa da Tradição Diânica do Brasil, Danna Myr.
Um chuva torrencial caia em Belém no fim de tarde quando chegamos a sua casa em Icoaracy.
Em meio a cristais, livros, filtros dos sonhos e imagens da Deusa, Danna nos ofereceu um bolo azul, o que contribuiu ainda mais para termos a certeza que estávamos diante de um abiente cheio de magia.
Danna Myr, com sua túnica saceredotal
Enquanto ouvíamos o barulho da chuva e contemplávamos o "jardim secreto" de Danna, a sacerdotisa gentilmente respondeu nossos questionamentos a respeito de sua compreensão do sagrado feminino e de seu engajamento político e social.
Danna contou que antes de conhecer a Wicca, participou de movimentos de mulheres ligados à Igreja Católica e à Igreja Luterana. Danna pertence à Wicca desde 2006, tendo se iniciado na Tradição Diânica do Brasil em fevereiro de 2015.
Juntamente com o sacerdócio wiccaniano, Danna milita no movimento de mulheres MAS - Mulheres Amazônicas Socialistas - e no Comitê Inter-religioso do Pará. Outro aspecto importante de sua militância feminista é o Círculo de Mulheres, que existe desde 2009.
Na entrevista discutimos religião, política e espiritualidade a partir de uma cosmovisão wiccaniana. Falamos também da compreensão do sagrado feminino dentro da religião Wicca, e das concepções wiccanianas a respeito da diferença entre homens e mulheres, do casamento e da sexualidade.
Com esta primeira entrevista, começamos o levantamento de dados do Projeto Espiritualidades Feministas, que esperamos concluir até o final de 2015.
Um chuva torrencial caia em Belém no fim de tarde quando chegamos a sua casa em Icoaracy.
Em meio a cristais, livros, filtros dos sonhos e imagens da Deusa, Danna nos ofereceu um bolo azul, o que contribuiu ainda mais para termos a certeza que estávamos diante de um abiente cheio de magia.
Danna Myr, com sua túnica saceredotal
Enquanto ouvíamos o barulho da chuva e contemplávamos o "jardim secreto" de Danna, a sacerdotisa gentilmente respondeu nossos questionamentos a respeito de sua compreensão do sagrado feminino e de seu engajamento político e social.
Danna contou que antes de conhecer a Wicca, participou de movimentos de mulheres ligados à Igreja Católica e à Igreja Luterana. Danna pertence à Wicca desde 2006, tendo se iniciado na Tradição Diânica do Brasil em fevereiro de 2015.
Juntamente com o sacerdócio wiccaniano, Danna milita no movimento de mulheres MAS - Mulheres Amazônicas Socialistas - e no Comitê Inter-religioso do Pará. Outro aspecto importante de sua militância feminista é o Círculo de Mulheres, que existe desde 2009.
Na entrevista discutimos religião, política e espiritualidade a partir de uma cosmovisão wiccaniana. Falamos também da compreensão do sagrado feminino dentro da religião Wicca, e das concepções wiccanianas a respeito da diferença entre homens e mulheres, do casamento e da sexualidade.
Com esta primeira entrevista, começamos o levantamento de dados do Projeto Espiritualidades Feministas, que esperamos concluir até o final de 2015.
segunda-feira, 9 de março de 2015
O sagrado feminino
Por dois mil anos o
Ocidente viveu sob o advento do cristianismo uma espiritualidade patriarcal,
onde a face de Deus era percebida como masculina. Um dos ícones emblemáticos de
uma imagem de Deus masculino no imaginário cristão é o afresco pintado por
Michelângelo na Capela Sistina, intitulado “A criação de Adão”. Nele, Deus é representado como um ancião
grisalho, que cria o ser humano, representado também por um indivíduo do sexo
masculino.
Além do Cristianismo, outras
religiões do livro como o Judaísmo e o Islamismo são fortemente patriarcais. Por
serem as religiões dominantes em uma parte considerável da superfície da Terra,
essas espiritualidades e suas formas de ver o mundo eclipsaram outras
cosmologias cujo foco no sagrado feminino está mais presente.
Desde o final do século XIX tem acontecido o
resgate do elemento feminino na espiritualidade Ocidental, suscitado por
diversos movimentos religiosos espiritualistas, que a partir da década de 1960
ficaram conhecidos como Nova Era. Entre estes movimentos um dos mais destacados
é o neopaganismo.
O neopaganismo surge em
diferentes países da Europa durante o século XIX com a proposta de resgate de
uma religião de culto à Natureza, que teria existido na Europa antes do
cristianismo (Duarte, 2008). Impressionados por obras como a da arqueóloga
Margareth Murray e do Antropólogo James Frazer, pensadores místicos e
esotéricos começaram a esboçar uma religião da Deusa, batizada por Gerald
Gardner na década de 1950 de Wicca. Nos anos de 1960 essa espiritualidade
neopagã se encontrou com o movimento jovem da Contracultura, na Califórnia, onde
surgiu a Wicca Diânica, ou feminista.
A Wicca Diânica propõe uma espiritualidade mesclada com
ativismo político, pois pretende resgatar a conexão da mulher com a terra e com
os ciclos da natureza, percebidos como ameaçados pela cultura ocidental. Uma
corrente da Wicca Diânica, denominada Reclaiming
liderada por Starhawk enfatiza particularmente a relação entre Wicca,
feminismo e ecologia:
“Foi nos anos de 1970 que o congresso de
mulheres feministas se reuniu e escolheu a sigla que lançará o feminismo mágico
em um novo ciclo: WITCH. Para as mulheres que começaram a usar a palavra witch como designação e arquétipo de sua
atitude política, ela oferecia-lhes um modelo de mulher independente, revoltada
e sábia, adicionado ao carisma de martírio da época inquisitorial, irmanando-a
com essa linhagem mítica de mulheres que Jules Michelet inventara como sendo
curandeiras, feiticeiras e herdeiras da velha sabedoria pagã” (Lascarix,
2010).
Paralelamente à ênfase dada
no elemento feminino nas novas religiões surgidas a partir do final do século
XIX, movimentos de reforma da Igreja como a Teologia da Libertação deram ensejo
ao surgimento de uma Teologia Feminista, cuja proposta era resgatar o papel da
mulher na constituição da Igreja Católica, a partir de uma releitura da Bíblia.
No Brasil, além de ser
forte a tradição de culto às santas e nossas senhoras no catolicismo popular,
de matriz ibérica, a espiritualidade africana também possui um culto ao sagrado
feminino. No Candomblé africano haviam sociedades secretas femininas, as
sociedades Gelèdés, onde o culto às ancestrais, as Yá Mí Oxorongás, se dava
cercado de mistério.
Hoje
a espiritualidade de matriz africana é praticada no Brasil em terreiros de
religiões como Candomblé, o Tambor de Mina e a Umbanda. Os terreiros são frequentados
por ambos os sexos, porém em algumas vertentes mais tradicionais apenas a
mulher pode entrar em transe com divindade e liderar a casa de culto (Landes, 2002;
Ferretti, 2009).
As divindades femininas
são muito destacadas no panteão, sendo também muitas vezes sincretizadas com
santas católicas, como ocorre com a orixá Yemanjá, sincretizada com Nossa
Senhora da Conceição ou com Nossa Senhora das Candeias, dependendo da região do
Brasil.
Na atualidade, diversas
religiosidades cujo foco é o resgate do sagrado feminino possuem forte
afinidade com discursos políticos feministas e ecológicos. Desde as praticantes
da Wicca diânica na Califórnia que elegeram o resgate da figura da bruxa como
símbolo emblemático da emancipação da mulher (Salomonsen, 2002), antes sob o julgo
do patriarcado, até as mães de santo, sacerdotisas do Candomblé africano
praticado em Salvador, Brasil (Landes, 2002), existem muitas religiões onde a
mulher é a figura principal.
Referências
FERRETI,
Sérgio. Querebentã de Zomadonu. Etnografia da Casa das Minas do
Maranhão. 3ª. Ed. Rio de Janeiro:
Pallas, 2009.
LANDES,
Ruth. A Cidade das Mulheres. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2002.
LASCARIZ,
Gilberto de. Ritos e Mistérios Secretos
do Wicca. Um estudo esotérico do Wicca tradicional. São Paulo: Madras,
2010.
SALOMONSEN,
Jone. Enchanted Feminism. The reclaim witches from San Francisco. London and
New York: Routledge, 2002
domingo, 1 de março de 2015
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